segunda-feira, 12 de julho de 2010

Crónica: o futebol colectivo

04/07/2010

"Mundial 2010 ainda não chegou ao fim, mas já há um vencedor antecipado: o futebol colectivo. É fácil perceber o que têm em comum o Uruguai, a Holanda, a Alemanha e a Espanha, não? São equipas! Daquelas verdadeiras. Não só de nome, mas também na forma como se unem em torno de um objectivo.
Na realidade, é quase sempre assim. Poucas vezes se ganha sem jogar verdadeiramente em equipa. Mas até podia ser que o individualismo tivesse levado alguém às meias-finais. Não aconteceu, e isso justifica o elogio. Seja qual for a equipa a vencer, destas quatro, nenhum (verdadeiro) amante de futebol pode torcer o nariz.
Claro que as quatro selecções semi-finalistas têm as suas estrelas, mas chegaram à última semana de prova graças ao trabalho colectivo. Sneijder carregou a Holanda às costas, frente ao Brasil, mas no bom sentido: foi o primeiro a dar o exemplo, e não o único. A Espanha tem estrelas para dar e vender, mas de Casillas a Villa, passando por Piqué e Puyol, não há ninguém que fique arredado do «tiqui-taca».
O Uruguai até foi a última equipa a qualificar-se para o Campeonato do Mundo, mas conseguiu ir mais longe do que Brasil e Argentina. É, por isso, o último representante sul-americano, e também o único não europeu. Tem Forlán e Luís Suarez, é certo, mas atrás destes tem mais nove jogadores dispostos a dar a vida pela selecção.
A Alemanha aparece como expoente máximo da força do futebol colectivo, e por isso merece o estatuto de principal candidata ao título. Ao habitual cinismo do futebol germânico, a jovem selecção de Joachim Löw juntou uma qualidade na circulação de bola que envergonha muitas selecções latinas.
Este elogio ao futebol colectivo também serve para reprovar o oposto. Se de Itália e França nem vale a pena falar, Brasil e Argentina mostraram que o colectivo não se compra no supermercado. Não basta parecer que se tem. É possível ganhar alguns jogos sem ter uma verdadeira equipa, mas não um Campeonato do Mundo. Dunga preocupou-se tanto com o equilíbrio que partiu a equipa ao meio; Maradona deu alma à «albiceleste» mas não lhe passou qualquer ideia de jogo.
O caso português é idêntico ao brasileiro, no que diz respeito à origem do problema. Carlos Queiroz procurou dar equilíbrio à equipa, mas só o conseguiu numa das vertentes do jogo (o processo defensivo). As boas equipas, as que estão nas meias-finais, são aquelas que adaptam a força do colectivo a ambas as situações" Nuno Travassos, maisfutebol

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